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Oscar Niemeyer, Cidadão Paulistano

Artigo, publicado no Jornal da Manhã em 30 de setembro de 2004


Um simples olhar e dá para se perceber a sua marca, a leveza de seus traços e a sua personalidade. O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) ao comemorar 80 anos de existência o homenageou aclamando-o “o arquiteto do século”, por indicação unânime dos nossos conselheiros. Agora, o vereador e arquiteto Nabil Bonduki  propôs a outorga do título de cidadão paulistano ao arquiteto Oscar Niemeyer Soares Filho, solenidade assistida por centenas profissionais arquitetos e por centenas de estudantes de todas as faculdades de nossa cidade e de outros rincões que aqui vieram em caravana.

A homenagem ao nosso arquiteto maior ocorre quando nós nos deparamos com uma situação bastante particular, que exigirá de nossa parte intensa dedicação e trabalho. O mundo globalizado nos bate à porta de maneira mais danosa e prejudicial, com capitais externos trazendo na bagagem projetos e escritórios estrangeiros, que interferem e atuam em nosso território de maneira ilegal, sem o mínimo respeito à nossa cultura arquitetônica. 

Oscar Niemeyer nasceu em 1907 na cidade do Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes e nos anos 40 iniciou sua carreira no escritório de Lúcio Costa: naquele instante, nascia a dupla que faria história. Entre 40 e 54, suas obras marcaram a paisagem de três grandes cidades brasileiras: Rio, Belo Horizonte e São Paulo; depois, Brasília, que o colocou definitivamente na história da arquitetura.

Trata-se de um grande exemplo de arquiteto-construtor que sempre teve como meta a melhoria da qualidade de vida para aqueles que habitam seus espaços. Ele é daquelas pessoas especiais que transmite a idéia muito clara do fazer arquitetura para muitas gerações – eu e tantos outros seguiram a carreira de arquitetos ao ver os exemplos de Oscar Niemeyer, Villanova Artigas e João Figueiras Lima o Lelé, entre tantos outros mestres. Para mim Niemeyer é uma espécie de super-herói. Um verdadeiro Mito.  

Em São Paulo, uma de suas obras acabou se tornando o símbolo da cidade e uma das imagens mais marcantes, o edifício Copan. 

Foi projetado ainda por ele o Parque do Ibirapuera, inaugurado no âmbito das festividades comemorativas do IV Centenário da fundação da cidade. É dele o Memorial da América Latina, onde se deu a outorga do título de Cidadão Paulistano No complexo cultural do Memorial nada de detalhes insignificantes, apenas grandes vigas de 60 a 90 metros e as cascas em curvas do concreto.  Uma obra cuja monumentalidade corresponde à grandeza dos seus objetivos, que é a de aproximar os povos da América Latina tão oprimida e explorada. 

Nas obras que criou e espalhou pelo mundo aparece, em cada detalhe, a obstinação com que ele persegue o novo, e a assombrosa capacidade de inventar espaços cada vez mais amplos para os ousados vôos de sua imaginação.

Arquitetura é, em si, uma ação cultural, palco de nosso cotidiano. Através da arquitetura, estuda-se a história dos povos, das culturas de todos os tempos. Da mesma forma que participamos da luta pela preservação das obras e cidades históricas, dos patrimônios culturais tombados em benefício da humanidade, devemos  lembrar à sociedade de que o que estamos construindo hoje é  patrimônio a ser reconhecido amanhã como o resultado mais simbólico de nosso tempo.

Niemeyer é tudo isso e muito mais. É nosso patrimônio, é nosso cidadão.

Paulo Sophia
setembro / 2003