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O IAB, e o Futuro

Editorial, publicado no Boletim 51 do IAB-SP de jul/ago/set de 2005


Nossa profissão em sua essência trata do futuro — pró-jetar, lançar para o futuro — seu exercício é a construção futura de nossa própria sociedade. Damos corpo e forma a ela. Através da técnica e da arte, propomos espaços para o sucesso e desenvolvimento da sociedade. É, de fato, uma profissão de otimistas. Uma profissão dos que acreditam no futuro, insatisfeitos que estão com a realidade, o cotidiano e mesmo com as conquistas já alcançadas.

Tempo fugidio, o passado, o presente e o futuro. Destes, o presente é o que de fato é efêmero, pois só se materializa quando já é passado, e o futuro, principalmente para nós arquitetos, já se materializou a cada novo projeto, para além deste momento presente.

A vida de Oswaldo Correa Gonçalves tem esta força transcendente e material, essa substância concreta e tangível da transformação de uma sociedade na cabeça de um arquiteto que, sobre tudo, dedicou todo os “seus tempos” para a construção de nossa cultura. A sua morte o projeta para o futuro com tudo o que ainda devemos tirar como lições da qualidade de seus projetos e de suas ações. É, de fato, um dos gigantes do IAB.

Assumir postura equivalente a destes gigantes do IAB é assumirmos a vanguarda da sociedade e ligarmo-nos ao seu desenvolvimento, atentos aos fatos que a prejudicam assim com à nossa prática profissional. Não se trata de postura corporativa, mas de defender a própria sociedade e seu futuro.

As leis de nosso país, o futuro Conselho de Arquitetura e Urbanismo, a 6ª Bienal de Arquitetura, o Conselho Estadual do IAB-SP, as eleições do CREA-SP, bem como o próprio processo sucessório em nosso departamento, estão todos ligados, neste momento de reflexão, para a construção e defesa de nosso Futuro.

Futuro imediato, a Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo que temos o privilégio de inaugurar em sua 6ª edição, e acontecerá de 22 de outubro a 11 de dezembro, e a partir dela programar as suas próximas edições, revendo sua dimensão e o seu conteúdo, utilizando-as, de um lado, como grande vitrine de nossa produção arquitetônica, tratando de reconquistar a posição de prestigio internacional que nossos arquitetos sempre tiveram, e de outro assumindo-a como grande fórum de discussão de nosso futuro profissional.

A lei 8666 é uma destas leis que por considerar o projeto um item quantificável, como tijolos ou vassouras, desqualifica o conteúdo intelectual do próprio projeto, e contamina danosamente nosso Futuro imediato. Mais do que a reforma desta lei, necessitamos de tratamento adequado e próprio para a contratação do projeto com a valorização de seus processos intelectuais peculiares.

Considerar a possibilidade da rápida aprovação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo, e trabalhar por ela, é sem dúvida cuidar também deste futuro.

Enquanto nosso Conselho próprio não vem, vale frisar a necessidade de nossa atenção para as eleições do novo presidente do CREA-SP. Exigindo, enquanto este órgão permanecer como regulador de nossa profissão, uma posição firme de seu futuro presidente de apoio ao CAU e de propostas e compromissos assim como uma agenda comum para a administração de nossa saída do sistema CONFEA-CREA.

Destaco a importante aproximação desta gestão com todos os núcleos de nosso departamento distribuídos pelo interior do estado, desta vez em um proveitoso encontro realizado em Campinas, a Segunda Reunião do Conselho Estadual, ocorrido nos dias 22 e 23 de setembro próximo passado, quando nesta importante cidade de nosso Estado, encontraram-se os presidentes de 10 Núcleos e 5 membros de nosso conselho superior. Estiveram juntos colegas de Americana, Campinas, Bauru, Guarulhos, Limeira, Piracicaba, Ribeirão Preto, São José dos Campos, São José do Rio Preto e Sumaré. Entre os vários importantes assuntos, foram discutidos: a necessidade de uma tabela de honorários aplicável, o desenvolvimento de uma rede de cooperação dentro do IAB, o estabelecimento da cobrança da contribuição associativa unificada e conforme prevista no estatuto, o regimento de funcionamento do próprio Conselho Estadual e a necessidade de uma posição clara e firme do IAB contra a prática da “Reserva Técnica”, corruptora e perversa, que desvaloriza a especificação como decisão técnica de projeto para a qualidade da obra, relegando-a a uma situação de mesquinho interesse financeiro.

Desta forma, o Conselho Estadual do IAB – Departamento de São Paulo cumprirá papel primordial para a construção de políticas e do fortalecimento dos arquitetos em torno do IAB, dentro de uma visão estadual, nacional e sem fronteiras.

O crescimento do IAB-SP é um fato e a abertura de mais um núcleo de nosso departamento em Ubatuba, amplia as possibilidades de nossa rede de cooperação e discussão política e cultural.

Estaremos nos próximos dias 18 e 19 de outubro recebendo em São Paulo, os colegas do interior para o 3º Encontro do Conselho Estadual do IAB – Departamento de São Paulo e, em sua seqüência, entre os dias 20 e 22, para a reunião do 122º COSU (Conselho Superior do IAB), receberemos todos os conselheiros dos departamentos do IAB, reunião que antecederá a 6ª BIA.

Também, é importante tratar aqui do futuro imediato, que significa a eleição da próxima diretoria do departamento. A próxima gestão do departamento deverá considerar, para além de seu programa, a consistência e materialidade de uma experiência acumulada de todos os que tiveram o privilégio de presidir e dirigir nosso Departamento. Deverão buscar a coesão de todos os arquitetos do maior departamento do IAB. Deverão buscar o conhecimento do nosso estatuto e da estrutura a que se lançam como sucessores, e abdicar de propostas desvinculadas da realidade. Deverão analisar as novas demandas dos arquitetos e da sociedade, em face de uma estrutura do departamento que deverá ser renovada dentro das possibilidades dos dois anos de gestão.

A próxima diretoria deverá considerar a realidade e as possibilidades de ação para o fortalecimento de compromissos inadiáveis do IAB, de seus departamentos e de seus núcleos. Compromissos inalienáveis a que estamos ligados e por isso somos todos, ao mesmo tempo, o passado, o presente e o futuro de nosso IAB.

Paulo Sophia
Presidente do IAB-SP
02 / 10 / 2005