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Arquitetando o espaço pedagógico.
Inovações para além de seus limites.
—Conceito
Não é por acaso que projetar escolas e espaços especializados para a Educação é área do conhecimento e da própria teoria da arquitetura com suas especificidades e disciplinas de interesse características.
Paralelamente discutir “Inovação” é procurar onde ela é produzida, criada, idealizada, multiplicada e ao mesmo tempo adequada às realidades de cada momento histórico.
Na mídia são pautados invariavelmente o espaço pedagógico e seus processos, a escola contemporânea, a escola real nas periferias urbanas, a escola particular de privilegiados, a de “latinha” - pseudônimo pejorativo quase carinhoso e tão em voga, a escola do futuro, ao lado do verdadeiro mas lacônico lugar-comum: “não teremos futuro sem educação e cultura”.
A história da arquitetura tem no espaço especializado para a educação um caminho distinto e que em cada momento tratou de adequar estes espaços aos interesses da própria sociedade, garantindo desempenho e eficiência à atividade de produzir, reproduzir, transmitir e por fim acumular o conhecimento. Consolidando desta forma o processo dialético da reprodução das formas do próprio saber, de seu poder e de suas alternâncias, e sobretudo de tempos em tempos das rupturas tão necessárias.
Claustros, familistérios, internatos, ateneus, liceus, academias, educandários, a própria universidade, tutores privados para príncipes ou mestre-escolas para os aldeões, enfim, foram a cada tempo, lidando e estruturando espaços para esta admirável tarefa de educar.
Os marcos arquitetônicos deste percurso escolar ai estão para nos contar esta história.
Agora, sob a égide da sociedade de massa, de consumo, de informação e globalizada, projetar escolas ganha novos delineamentos.
Novos horizontes, novos projetos por fazer, novas escolas por edificar, inovações por arquitetar.
Neste contexto, e com todas as atenções voltadas para as ações dos governos, dos dirigentes, dos teóricos e estudiosos da área pedagógica, toda a sociedade demanda soluções urgentes para os problemas das nossas escolas, sensível que está para os rumos de seu próprio destino.
Esta demanda deve suscitar aos arquitetos, construtores e envolvidos na discussão dos processos construtivos e das novas tecnologias, posturas que certamente não se limitam ao plano pedagógico ou ao do desenho de “novidades arquitetônicas” sedutoras de primeira hora, tão afeitas que são ao mercado.
No atendimento à tríade exigente e estratificada: o corpo docente, o corpo discente e a sua família, com Criatividade e inovação, transcenderemos os limites da própria escola em uma ação que tem potencialidade transformadora do entorno e no desenho da própria cidade.
O projeto de novas escolas guarda potencialidades renovadoras para o próprio sistema de ocupação do território e seus processos.
Vale retomar a questão da mídia e o tratamento que esta dispensa ao assunto do espaço pedagógico, quase sempre de maneira superficial e apelativa, dando ênfase aos dramas da carência de escola ou ao impacto urbano no trânsito nos horários de rush. Desconsidera questões já detectadas pelos arquitetos de que características internas destes espaços já construídos prestarão um grande desserviço ao desempenho acadêmico. Como exemplo cito: a inexistência de um projeto específico para o tratamento acústico nas salas de aula, o descuido com a luminotécnia dos ambientes e a baixa qualidade dos espaços de convívio.
Ou seja, conforto ambiental e sustentabilidade dos espaços que são qualidades fundamentais de qualquer projeto e intervenção, mas frequentemente esquecidas também pelos arquitetos quando submissos aos “gostos da moda e do momento” e imposições de especialistas em “vendas”.
Mas, projeto da escola estando em certa medida “livre” das imposições de um mercado competitivo e do fardo alegórico, ostentações desnecessárias e imediatistas, deve oferecer desempenho em todos seus estágios: de planejamento, de construção, de manutenção durante o uso e até menos da reciclagem tão freqüente.
É importante estudar a história da construção escolar no Brasil, e peculiarmente no Estado de São Paulo, quer pública ou privada, religiosa ou laica, para verificar ao longo do tempo as múltiplas respostas dadas ao tema, bem como as contribuições ao problema das tecnologias envolvidas, proposições e relações urbanas, centralidades e qualidade de vida no espaço público.
Acredito termos superado o estágio da escola como parte de programas eleitoreiros, os Céus, Cieps e outros estão ai para mostrar que não ganham eleições, entretanto mesmo estes projetos merecem estudo em seus processos.
Contemporaneamente, vale estudar o esforço pioneiro de sistematização e racionalização, desde o projeto à sua obra, feito dentro de órgãos públicos Paulistas ( FDE e sua precursora Conesp). Pré-fabricação, standartização, repetição, seriação, enfim Inovação real e palpável, que não encontrou solo fértil à multiplicação destas experiências nas áreas da Habitação e de outros serviços públicos.
A avaliação pós-ocupação e o retrofit são temas pioneiros também na âmbito da escola. Espaço sensível às novas contribuições tecnológicas (informática, laboratórios, e etc.). A renovação é necessária, não só porque os edifícios envelhecem, mas porque as demandas e os programas pedagógicos se renovam.
Além do mais, independente de qualquer coisa, é preciso que o usuário tenha orgulho de seus espaços, seja a sua casa, cidade ou escola e a renovação deve ser constante.
São muitos os pontos a serem considerados em um bom projeto, não só no projeto de uma escola.
Qualquer bom projeto de arquitetura passa pelo domínio das técnicas de construção. Materiais novos possibilitam novas linguagens, novas formas, rapidez e economia. Os materiais são o corpo da arquitetura com os quais o arquiteto envolve a alma e o espírito de uma época. Hoje, temos muitos recursos, como forros acústicos modulares, luminárias de alto desempenho, pisos que favorecem a salubridade, processos de pré-fabricação e equipamentos de montagem compatíveis com grandes obras. Mais do que nunca, a escolha dos materiais não é só questão de gosto, mas principalmente de eficiência.
Considerando ainda que o emprego da boa técnica é questão fundamental e básica no trabalho do arquiteto, resta-nos a questão conceitual, a formulação de pontos e metas que, com uma nova carga simbólica, suscite em seus usuários uma nova postura. E esta é, para mim, dentre todas as contribuições que o espaço pedagógico tem a dar para outras áreas, a que considero a mais importante e a que nasce no projeto, qual seja: A construção de um real sentimento cidadão, uma aspiração de pertencimento e o orgulho de seus espaços.
A escola é um importante ponto de encontro e local de construção de sólidas relações sociais, que como todos sabem, duram a vida toda, e por tudo isso, estou seguro que a escola e seus espaços contribuem para as estratégias de valorização dos usuários e criação de vínculos com o lugar com forte carga simbólica.
Vale reafirmar que toda a inovação está no projeto e nos conceitos que este traz em seu bojo. Todo esforço por valorizar o projeto tem alcance incomensurável para além dos limites da obra em questão, seja ele a casa ou a escola, afinal tudo é cidade.
Paulo Sophia, Arquiteto
Ex-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil Departamento de São Paulo - IAB-SP.
2006