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Arquitetura e pedagogia se encontram nos aspectos funcionais da escola


Nesta entrevista exclusiva, o arquiteto Paulo Sophia, responsável pelo projeto do plano­diretor de Botafogo e pelo projeto da nova escola da Barra, fala sobre a concepção do novo Liessin Barra e revela a preocupação minuciosa com cada aspecto necessário à perfeita integração entre o espaço físico, o projeto pedagógico e a natureza.

   
Que aspectos o senhor destacaria do projeto realizado para o Liessin Barra? Quais as características principais da nova escola?
 
Paulo Sophia - É um edifício planejado para ser escola, com todos os elementos específicos e característicos desse programa. Salas de aula bem dimensionadas, amplos corredores, quadra, amplos laboratórios, sanitários generosos, circulação vertical através de rampas e uma biblioteca.
 
O projeto considera as características de entorno, o terreno, a insolação e tenta atender a complexidade desse programa. É um espaço planejado para receber bem a criança, oferecendo ­não só aos estudantes, mas a todos da comunidade do Liessin Barra - conforto e segurança.
 
Existem elementos formais construídos que dão ao conjunto edificado a sua presença e imponência característica na paisagem, tais como o vigoroso volume cilíndrico revestido de pedra e o pergolado na cobertura, um pórtico azul saliente na fachada contrapondo-se aos parapeitos amarelos e aos brises brancos, todos planejados para capturar o olhar dos usuários, oferecendo­Ihes inesperadas surpresas. Acredito que as cores e as formas projetadas estarão sempre a serviço do plano pedagógico da escola, que agora contará com o prazer de ocupar uma casa nova.
 
O senhor especializou-se em projetos para escolas. Quais as particularidades desse tipo de trabalho e as vantagens de uma escola cujo prédio não é adaptado, mas sim especialmente planejado?
 
Paulo Sophia - Ao longo de minha carreira, tenho enfrentado diferentes encomendas e programas. Tenho projetado residências, edifícios residenciais, fábricas e comércio, mas com grande freqüência tenho projetado escolas das mais distintas proporções.
 
Projetar escola tem sido um privilégio onde encontramos a liberdade para o pleno exercício de nossa profissão em uma área tão carente no país.
 
De pequenas escolas de bairro, de pré-escolas - educação infantil, ensino básico e fundamental- até complexos universitários pelo país. Em todos esses projetos a tônica tem sido a flexibilidade, a rapidez, a manutenção e as possíveis ampliações que ao longo do tempo, quando necessárias, vêm sendo feitas. Essas são as vantagens de um edifício planejado para um fim específico
 
Uma fábrica abandonada pode vir a ser transformada em residência, e os lofts americanos são um exemplo dessa possibilidade. Uma casa pode ser reformada e transformada em uma escola, entretanto a vertical idade e a necessidade de liberar área no térreo para as atividades de recreio e convivia social tornam as reformas caras e limitadas.
 
O Liessin Barra fica numa região arborizada. Qual a importância de integrar o projeto arquitetônico à natureza, especialmente em uma instituição escolar, e como isso foi feito no Liessin Barra?
 
Paulo Sophia - A natureza não é feita só das árvores, mas também com as montanhas, os rios, as praias, os mares, os animais etc. Todos esses elementos têm que ser tratados com respeito e devem ser domesticados em beneficio do homem. De fato, como arquitetos; estamos construindo uma "nova natureza", intramuros, com jardins, árvores, pisos e composições volumétricas, criando um universo protegido para as crianças. Caberá ao plano pedagógico ampliar os horizontes das suas crianças para o respeito à natureza e a construção de um mundo de paz.
 
Houve a preocupação de adequar cada espaço às necessidades funcionais da escola? De que forma isso foi feito?
 
Paulo Sophia - Sem dúvida, a arquitetura e pedagogia se encontram nos aspectos funcionais da escola projetada, e são muitos os pontos a serem considerados em um projeto de uma escola.
Existe o problema dos ambientes, seus fluxos e as relações de proximidade. Entretanto, considerando que o emprego da boa técnica é questão fundamental e básica no trabalho do arquiteto, nos resta a questão conceitual, a formulação de pontos e metas que com uma carga romântica ou poética suscitem em seus usuários uma nova postura de vida. Assim sendo, não existe propriamente uma fórmula.
 
Pode ser estranho afirmar que espaços de qualidade estarão sempre aptos a atender abordagens pedagógicas distintas. Acredito que a boa arquitetura transcende ideologias e governos e deixa gravados em nossos corações os momentos agradáveis - do lugar às suas proporções, cores e aromas.
 
A escola é o importante ponto de encontro e local de construção de sólidas relações sociais, que como todos sabem, duram a vida toda. Quantos de nós não nos recordamos dos amiguinhos de infância ou rememoramos as aventuras conjuntas? Esses colegas de infância nos acompanharão pela vida construindo também o país.