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ARQUITETURA TAMBÉM É EDUCAçÃO
—Revista INFRA - Julho, 2001
Para muitos, pode parecer que o trabalho de um arquiteto é solitário, e que este profissional preocupa-se apenas com o impacto estético de sua obra. A experiência do arquiteto Paulo Sophia mostra justamente o contrário. Especializado em uma área onde ainda há muito por se fazer, a Educação, Sophia dá um exemplo de preocupação social - mesmo quando desenvolve projetos para a iniciativa privada -', e ressalta a importância de seu trabalho estar integrado às necessidades do cliente, aos parceiros do empreendimento e, principalmente, à sociedade em que se insere. E isso que o leva, por exemplo, a criticar uma tendência internacionalizada da arquitetura, que considera de gosto duvidoso.
Nos últimos anos, seu escritório vem participando da expansão do ensino em diversas regiões do País, projetando edificações de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e também Universidades. Já teve projetos premiados inclusive na Bienal Internacional de Arquitetura, em São Paulo. Recentemente, Sophia respondeu, por e-mail, a seguinte entrevista exclusiva para a revista INFRA.
É comum se ouvir queixas de que o projeto de arquitetura acaba sendo refeito por não haver integração dos profissionais envolvidos. Quando seu escritório é solicitado, trabalha em conjunto com projetistas de hidráulica, elétrica, automação etc?
Paulo Sophia - Em nosso escritório trabalhamos sempre em conjunto com os projetistas complementares. As formulações arquitetônicas são feitas em estreito relacionamento com estes colegas. É fundamental que no início de cada obra o cliente já seja informado da equipe necessária para o atendimento de suas demandas. Não se conclui um projeto de arquitetura e depois se coloca a estrutura e muito menos se projeta a hidráulica sem o conhecimento das necessidades de segurança. É importante sempre lembrar: todo bom projeto começa com a clareza e compreensão do programa que um determinado cliente tem de suas próprias necessidades, sobre seus planos de crescimento para a empresa ou negócio, a sua experiência e sua análise crítica das condições em que opera.
Os mantenedores têm consciência de que o retrofit só é viável quando fruto de um planejamento de viabilidade ou consideram o assunto como uma simples reforma?
Paulo Sophia - Em nosso País enfrentamos problemas de planejamento estrutural. Em função da falta de planejamento nacional, o impacto das mudanças econômicas em qualquer negócio é imenso e o custo da obra costuma ser a grande dúvida de nossos clientes. Quanto e como gastar maximizando seus resultados. Os mantenedores das universidades são profissionais capacitados, que enxergam o "retrofit" como ação de planejamento. Entretanto, vivem as condições particulares com o ciclo do período de aula sucedido pelas férias, o que determina o tempo, em geral curto, para essas ações de reciclagem. Sem dúvida um planejamento de longo prazo, planos diretores e ações pontuais rápidos são constantes de nosso trabalho junto às universidades. A escolha de tecnologias que passam fazer frente à necessidade de rápidas implantações é primordial.
Hoje, temos uma variada gama de opções de revestimentos para fachadas e hall. Quais são os materiais mais adequados para a edificação escolar?
Paulo Sophia - A fachada de uma escola ou universidade traduz a espírito de contemporaneidade e de seus processos pedagógicos e tecnológicos. A fachada é um cartão de visita e está associada ao orgulho do usuário de pertencer àquele local.
Entretanto com a pressão da globalização e a importação de produtos e sistemas, a arquitetura brasileira está, ao meu ver, a reboque de um gosto duvidoso e internacionalizado desvinculado das boas raízes da arquitetura modernista brasileira, que já foi produto de exportação. Hoje, os materiais mais adequados para a composição das fachadas, assim como de seus interiores, deverão ser os produtos de montagem, uma arquitetura industrializada e pré-fabricada que considere também os fatores de conforto específicos de nosso clima. Os vidros nas fachadas são um problema sério ao conforto dos interiores. Se o budget do cliente permite, devemos utilizar vidros reflexivos de alto desempenho, associados a brises e elementos de sombreamento. Jardins interiores e água ajudam a compor o ambiente amenizando o impacto climático.
Que tipos de revestimentos você costuma utilizar e por quê?
Paulo Sophia - Nos revestimentos de fachadas gosto muito das cerâmicas pela facilidade de limpeza e pela textura que se obtém. Quando esmaltadas, suas cores são perenes, limitando o custo de pintura ao longo da vida do edifício. Entretanto, com a verticalização dos programas escolares nos grandes centros urbanos devemos procurar materiais de mais fácil aplicação, com um rendimento maior. As luminárias devem ser escolhidas dentro das que dêem maior rendimento luminotécnico, considerando também os aspectos de ofuscamento e manutenção em longo prazo. Louças sanitárias simples e de fácil reposição, bacias sanitárias que consumam pouca água, torneiras com temporizador que se fechem automaticamente.
De fato, o problema da alta rotatividade e super exposição dos espaços públicos demanda escolha de materiais resistentes que também tem seu custo diferenciado. A escolha dos materiais deve seguir também uma linha conceitual que permeia a arquitetura como um todo. Como já dissemos anteriormente os materiais são as vestimentas da arquitetura para o espírito de uma determinada época.
As escolas atualmente já nascem ou são modernizadas utilizando novas tecnologias na área de automação predial?
Paulo Sophia - A automação predial faz parte da busca de eficiência na manutenção dos edifícios e entrará também no edifício educacional. E bem verdade que a automação predial é pouco usada nos edifícios escolares, onde apenas controles de acesso computadorizado com catracas eletrônicas são uma preocupação. Nos edifícios escolares mais novos, redes estruturadas já são uma realidade. No edifício escolar contemporâneo é fundamental um sistema de gerenciamento que controle bombas d'água, centrais de ar condicionado, elevadores, controles de acesso, consumo elétrico e etc. Shafts para os serviços especializados também são necessários.
Hoje, os arquitetos já procuram fazer projetos que permitam uma fácil manutenção predial, mas há arquiteturas que dificultam a limpeza, principalmente da fachada. Como você trata este assunto, na criação de um projeto de arquitetura?
Paulo Sophia - Às vezes a cliente exige formas impactantes, quer aparecer na paisagem. Às vezes é o arquiteto que sonha em fazer a "obra da sua vida”, mas tudo isso é irresponsabilidade com o dinheiro da própria sociedade. Esquecem que estão colocando um edifício na cidade e que este logo será um elefante branco feio e maltratado, vocacionado a ser um cortiço. A sociedade paga estes absurdos de uma forma ou de outra. Em um shopping que tem um custo absurdo para a manutenção da sua fachada terá, obviamente, este custo repassado aos produtos que ali são vendidos. Na escola ocorre o mesmo. Ao arquiteto cabe orientar também os aspectos de manutenção e limpeza da escola, Quantas vezes eu já vi um pátio sendo lavado com a água e mangueiras do sistema de combate a incêndio! Isto é uma atitude irresponsável com um produto tão caro como a água.